Oeste do Paraná: Plantas que Curam e Sabedoria Ancestral Guarani Estão no Centro da Resistência e Preservação Cultural

Helena Rosas do Deserto
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Helena Rosas do Deserto
Sou Helena Maria, CultivoRosas do Desertohá 14 anos, sou formada em Paisagismo, e tenho muito carinho pelas Rosas do Deserto, Decidi criar esse blog para compartilhar...
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Batismo de plantas sagradas e intercâmbio ancestral fortalecem práticas milenares dos Guarani no oeste paranaense, envolvendo líderes do Brasil, Argentina e Paraguai

No oeste do Paraná, a cultura Guarani celebra a ancestralidade por meio do batismo das plantas sagradas, da troca de sementes e da reunião das lideranças espirituais vindas de diferentes países. Essa prática resgata valores fundamentais, como a proteção da mãe-terra e o reconhecimento das plantas como seres dotados de espírito, integrantes essenciais da vida comunitária.

A iniciativa, realizada na Tekoha Ocoy, em São Miguel do Iguaçu, simboliza mais que um ritual: é a reafirmação da identidade, da saúde integral e da sustentabilidade dos povos indígenas, promovendo equilíbrio entre cultura, ambiente e bem-estar.

Conforme fontes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul, este momento fortalece a luta contra o esbulho territorial sofrido há décadas, especialmente após os impactos da Hidrelétrica de Itaipu, que inundou áreas tradicionais do povo Guarani.

A sabedoria da cura na relação sagrada com as plantas

Na opinião do rezador João Alves, conhecido como Joãozinho, “a cura está na natureza”. Ele relata ter ajudado pessoas com remédios naturais feitos a partir de plantas locais, demostrando que doenças como diabete, câncer e problemas de vista podem ser tratadas com o conhecimento ancestral.

O ensinamento do povo Guarani reforça que, para preservar a saúde, é essencial cuidar da terra e manter vivos os saberes transmitidos por gerações. Joãozinho destaca: “aprendi com meu pai e meu tio, e pratico o que está guardado na memória”, mostrando o caráter coletivo e familiar da medicina tradicional.

Essa percepção vai ao encontro do conceito de agroecologia indígena, que não está focada apenas na produtividade, mas no respeito e na sacralidade das plantas. Para eles, as plantas possuem espírito e precisam de proteção, cuidado e apreciação equivalentes aos dos seres humanos.

O significado do Pohã Karai e o ritual do ano novo Guarani

O Pohã Karai, ou batismo das ervas, é um ritual sagrado onde as plantas são abençoadas para que tenham força para germinar, curar e alimentar as comunidades. É um momento marcado pela presença de lideranças de Brasil, Argentina e Paraguai, reforçando a união internacional do povo Guarani.

A cerimônia acontece no mês de setembro, considerado o ano novo na cultura Guarani, tempo em que as plantas florescem e se renovam. Durante o evento, sementes de várias culturas, como milho criollo, feijão e mandioca, são compartilhadas entre as famílias, garantindo a diversidade biológica e cultural.

O professor Clovis Brighenti, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, explica que o ritual não só fortalece o vínculo espiritual, mas também funciona como uma ação pedagógica de revitalização cultural, essencial para a vida do povo Guarani.

Resistência territorial e futuro sustentável com a agroecologia indígena

A Tekoha Ocoy, território onde a cultura Guarani está sendo revitalizada, abriga 220 famílias que resistem às adversidades, especialmente os impactos sofridos após a construção da hidrelétrica Itaipu. Conforme relato da liderança Daniel Maraca Miri Lopes, os ancestrais viveram às margens do Rio Paraná, hoje submersas, e a atual luta é para resguardar direitos territoriais e a memória ancestral.

Além disso, a comunidade Guarani inicia práticas agroecológicas que integram jovens e vizinhança, promovendo hortas coletivas para produção de alimentos e remédios naturais. Daniel destaca: “Vamos chamar toda a vizinhança, as crianças, para plantar as variedades de sementes tradicionais”, demonstrando o compromisso com a continuidade das tradições.

A participação de parceiros como o Cimi Sul, mulheres camponesas e atores locais destaca a solidariedade e intercâmbio de saberes, fortalecendo a rede de apoio para a valorização da cultura originária e a autonomia dos povos indígenas.

Importância do reconhecimento, apoio e preservação da cultura e do território Guarani

Os relatos evidenciam que o valor das plantas, das sementes e da cura não está no caráter comercial, mas no respeito ao ciclo da vida e à sustentabilidade cultural. Como afirma o rezador Joãozinho: “o remédio é para usar dentro da família, da comunidade, não é para ganhar dinheiro”.

O reconhecimento do espírito das plantas e da ancestralidade Guarani é fundamental para a proteção ambiental e para a justiça social. A manutenção desse legado depende também do apoio de governos e instituições, conforme solicitado pelas lideranças para garantir recursos e espaço para os encontros e a construção de casas de rezas.

Assim, a renovação anual das sementes tradicionais no oeste do Paraná simboliza esperança, resistência e um caminho para que a cultura, a identidade e a saúde dos povos Guarani sejam preservadas, fortalecendo o elo vital com a mãe-terra.

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Sou Helena Maria, CultivoRosas do Desertohá 14 anos, sou formada em Paisagismo, e tenho muito carinho pelas Rosas do Deserto, Decidi criar esse blog para compartilhar dicas e ensinamentos sobre como fazer Rosas do Deserto Florir.
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